Queijo de ovelha

Contado por Fátima Mendes
Categoria C

Vive na Ferraria desde os 4 anos. Faz de tudo um pouco. Tenho um rebanho de gado, trato delas, vou pasta-las, faço queijo, trato de coisas na horta, dou volta à vida domentica. Os meus avós eram de cá. Viemos de Mira de Aire. O meu marido veio do Cercal.

Memórias de pequena: não havia luz, nem água canalizada, nem calçada era tudo terra batida. Iamos para a escola  para o Favacal a pé. Avós faziam agricultura. Todos os terrenos estavam amanhados. Milho, feijão, centeio, batatas, abóboras,...Iam às feiras vender estes bens. O pai veio para trabalhar numa fábrica.

Infância: havia aqui muitas crianças. Brincavamos às escondidas, à macaca, à cabra cega.

Partidas: pelo Carnaval, isso não falhava. Ela e os primos desmontaram as rodas da carroça do Basílio e levaram para longe, a uma mina de água - o Brejo. A mula, tirámos do curral e escondemos.Acabou a escola. Aprendeu costura. Esteve numa fábrica e deixou. Casou e tem um filho. Pensou em sair para viver no Avelar. Mas num apartamento não tinham esta vida.

Era muito chato cortar/tirar a lã às ovelhas.

1º tiveram ovelhas. “Era muito chato cortar/tirar a lã às ovelhas.” Têm menos leite que as cabras, para queijo é pior. Vendiam cordeiros. Mudaram para as cabras. Quem ensinou a fazer o queijo foi a mãe. Depois ficou doente. A Fátima ficou a tratar de 20 cabras, a ordenhar e a fazer queijo.

Segredo de fazer um bom queijo: Ter as mãos frias. Mãos quentes não são boas para fazer queijo, deixam-no encortiçado, parece esferovite. Por vezes, a minha mãe punha as mãos em água, na torneira, para arrefecer. Outro segredo, apertar bem, sair o soro, se não quando se tira o acincho fica à “lara”. A minha mãe usava o cardo para coalhar. O meu pai trazia da madrinha, da Aveleira, Alvaieazere. Ficava de um dia para o outro de molho numa caneca e era coado para dentro do leite. Mais umas gotinhas de limão. Ainda hoje ponho. Não bebemos este leite mas fica bem em arroz doce e em leite creme. Vendem cabritos. Fazem chanfana. Pele de rapousa lembro-me de ver a curtir. Cheirava. Era para fazer tapetes. Lobos: a mãe via-se aflita. Enchutava-os com pedras mas às vezes lá ia um cabrito. Vêm ao anoitecer.   

Preferencias: ar saudável, andar ao ar livre.

Lendas ou histórias/partidas: Levar meninos às lontras e aos gambuzinos. Levavam um saco para trazer os animais e iam batendo umas latas. Deixavam-nos lá sozinhos e vinham embora. Os pais desses meninos ficavam zangados com eles, os malandros.

Rotina na Ferraria: havia muitos bois e burros para trabalhar os terrenos, a água era tirada dos poços com as gaivotas, para regar os terrenos, engenho engatado ao burro para regar as culturas.Episódio marcante: a morte da mãe, caida num terreno. O fogo de 2017, chegou muito de repente, nunca pensámos em ficar cercados. Custa a esquecer. Regaram tudo a mangueira os currais dos animais, as casas, onde caiam faulhas. Depois ficaram com medo mas lá continuaram.

Serões da apanha do milho: juntava-se tudo a escamisar. numa roda, o milho no meio, iamos pondo o milho nuns poceiros, à frente, e as camisas retiradas para trás. Contavam-se muitas historias. Quando vinha a espiga vermelha, a pessoa que a apanhava tinha que dar abraços à malta toda em volta. Cantigas, as senhoras mais antigas. Eu nunca aprendi.

Futuro: O futuro só Deus sabe. Gostava de ver a aldeia evoluida, que fossem todos unidos. “Nunca ouviste dizer que no rebanho há sempre uma cabra ou duas que foge para o lado.” As pessoas também. “Quanto menos são, pior é.” Antigamente era muita gente e eramos todos unidos. Se o filho quiser sair, que conselhos lhe dava: para seguir a vida dele, ter asas.

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