Esteve em Moçambique. Perdeu lá 2 irmãos.
Nasceu na Ferraria. Em casa. A mãe sem apoio, só após o nascimento veio o marido que foi buscar a mãe. Eram gémeos. O irmão morreu com meio ano, de meningite. No total eram 5 irmãos. Ela tem agora 80 anos, feitos em Abril.
Ia para o campo sachar, regar. A vida sempre foi do campo. Miséria. Tinham um charruete de bois. Milho, batatas, feijão. Vendiam no Avelar, Espinhal em feiras.
Cada morador tinha 15 cabras. Tocava a buzina. Iam todos por o gado a um pastor que levava o gado de todos, uma vez por semana. Se alguma parisse, o pastor levava um saco, punha lá a cabrita e entregava ao dono no regresso. Com mais de 30 animais, duas vezes por semana.
Como vocês fazem hoje com os pastores que andam aí.
O gado servia para fazer esterco para as terras, as criações é que era para vender, para fazerem dinheiro.
Nunca foi terra de azeite. As oliveiras ainda ficavam bonitas, carregadinhas, mas quando vinha o nevoeiro, pelo S. João, agarrava-se uma coisa que parecia bolor que estragava tudo, apodrecia.
História, a rotina quando adulta
No inverno não se fazia nada nas terras. Em casa, cortavam tecidos velhos, esfiapavam, torciam e faziam colchas. A avó era tecedeira, tinha um tear.
Recordação do avô (segredo), relógio de sol vindo da Argentina, para dar à mulher, à sua avó. Chamam-lhe uma bulsa. Quando esperava o marido para almoçar, olhava para o relógio e dizia: “já é meio-dia, o meu marido já pode vir para almoçar”. Encontreio-o num [aldemar…], sujo, muito velho. Tive que por lixívia
Sacos com feijões para semear, escolhidos no inverno, para as terras específicas, que levavam água. Tudo marcado.”Terra da pouxada, a que pega com o Claudino
Secar o milho em panos, que eram remendados no Inverno, máquina para debulhar o milho, tem-a numa garagem. Primavera, sementeiras depois de saxchadas.
Porco, engordavam-no e depois faziam as chouriças, farinheiras, para consumo. O presunto posto na salgadeira, que ainda tem. Sardinha, compravam. Vinha o sardinheiro com o burrito, com uma caixa de cada lado. Comiam partida ao meio, por duas pessoas. Discutiram entre a cabeça e o rabo da sardinha e iam rodando. Irmãos mais velhos já comiam uma inteira.
Almoço para farnel, quando vinham da escola, ficavam com fome: ovo mexido em migas de sopa, caldo. O tio dava-lhe broa.
Maio: cortavam fetos, para pôr no chão à porta do curral, para a tosquia das ovelhas. A lã era para vender. Enrolada.
Milho serões das descamisadas: juntavam-se todos os vizinhos, um de cada casa. Juntavam-se no barracão. Quando encontravam a espiga vermelha, “davam todos um xi, era uma alegria!” Milho que degenerava e vinha vermelho. Ganhava pintas e ficava vermelho. Era a espiga de prata. Cantigas, músicas populares.
Verão, arrancar o feijão das terras, tirar as vagens, punham num pano para secar. Rama para as cabras ou bois. Batiam com um pau ou pisavam. Guardavam para comer de Inverno, o mais miudinho. O melhor, mais grossinho, ficava para semear. Das cabras faziam queijo.
Casei com 23 anos.Trabalhei muito fora, para a azeitona. Marido, António, sapateiro. Tinha um bloqueio no coração. Durou 11 anos. Caiu em casa e morreu...Veio o Zé Vintém passar o atestado. Tanta pergunta difícil... Levaram-no para a capela. “A mim, levaram-me em varais, porque eu não era capaz!” Era um Santo. A minha filha é tal e qual. Os netos também.