Aumentar a Família

Contado por José e Sandra
Aldeões

A Sandra nasceu em Moçambique e veio para a Ferraria com 2 anos. O Zé não é da Ferraria, é de Miranda do Corvo, Casal das Cortes, um lugar pequeno como a Ferraria.

Lembranças: vivia na rua que agora tem calçada, lembra-se de ser tudo em terra, de ver muitos homens e máquinas a pôr a calçada. Lembro-me de ir buscar água à fonte, não havia água em casa, com cântaros um de barro e um de plástico, à cabeça ou baldes. Tomava banho em pequenita dentro de uma bacia. Por vezes, em tempos de seca, iam aos poços que havia nas terras. Para os animais também.

Daqui nunca saio. Não gosto de sítios barulhentos, gosto do sossego da aldeia. 

Quis sair, quando era novita. Depois conheci o Zé e ficámos. Disse: “Daqui nunca saio.” Não gosto de sítios barulhentos, gosto do sossego da aldeia.

O Zé:  gostei da cachopa! Gostei da aldeia pacata, sossegadinha. Só o sossego vale muito.” É carpinteiro. Trabalha onde houver. Soalho, janelas… aprendi numa oficina que o meu tio tinha. Ela trabalhou numa confeção, num lar, na Cerci, ficou na Sirl há 11 anos. Gosta de fazer caminhadas com o filho e com a cadela. Fazem agricultura, mais aos fim-de-semanas (batatas, tomates, etc.). Animais têm cabras, galinhas, coquiches, rosicolis, cacariques, e as abelhas. É o hobby favorito e onde passa mais tempo. Gosta muito. à noite pesquisa sobre as abelhas, vê vídeos, tira ideias e põe em prática. Até já passou o gosto ao filho. Para certos trabalhos escolares, chegou a levar abelhas e vespa asiática num frasquinho de vidro. Chamou a atenção do professor, por não ser só trabalho escrito ou em vídeo. Das abelhas faz mel, tenta criar uma rainha para introduzir em núcleos novos. Retira mel. Ainda não retira pólen porque tem poucos apiários( abaixo de 20 a 30) e para ficarem para pólen não tira mel. Gosta de apanhar um enxame, é muito bonito. A rainha lidera o grupo e leva-os todos para o apiário. Também estuda se a rainha ainda está a produzir bem, a fazer uma boa postura. Se criar os favos a partir do centro dos quadros, está boa. Se estiver a trabalhar nas bordas, está a ficar velha, tem que ser substituída. É preciso ir buscar uma nova, um favo no centro para a atrair a trabalhar. A Sandra tb gosta, gosta de aprender e de substituir o Zé se for preciso. Ele quer avançar sempre mais, tirar própolis, um bom medicamento, mas gosta de ir devagarinho.

O sítio da Ferraria: convívio que faz juntar as pessoas, muito comunicativas. Possibilidades para criar o filho: as colegas acham que eles moram longe mas não, eles não acham. O miúdo sempre andou na escola para Penela, desde a creche e agora está a estudar em Coimbra. “Tenho dado sempre a ele [filho], tudo o que tinha na minha mente.” No Verão são os colegas dele que querem vir para cá. Tenho sempre algum em minha casa, às semanas inteiras.

O que falta: o cafezito, o lugar para os turistas pararem. Uma piscina natural? Ia-se o sessego, diz o Zé.

Festas: eram sempre 3 dias de baile até às 5 da manhã ainda a dançar. Tenho pena de ter acabado. Enfeitavamos tudo em papel, cortávamos, colávamos nos arcos, a cola era farinha. Faziamos fogaças (o suporte [de tecido] que se coloca na cabeça para levar os pesos à cabeça e levar o farnel) para vender.

Aprendeu com o avô sobre burros. Montava uma burra chamada Jerica e ia com ela até ao engenho do povo, lá adiante, tirar água para um tanque para a rega. Tratava das cabras, no tempo da escola. Eram muitas nessa altura. Toda a gente tinha um grande rebanho. Eu e outra vizinha, saiamos de manhãzinha, levávamos um lanche e ficávamos 3 a 4 horas. “Andavam a plantar a floresta. Tínhamos que tomar conta das cabras para elas não irem comer os eucaliptos.”

Ciclo do milho: aprendi tudo. sachavamos o milho, tirar a folha, atar, por a secar, , apanhar. Juntavam-se umas 12 pessoas a descamisar o milho. Depois saia a espiga vermelha, aos miuditos, era a felicidade, nós pitas tinhamos trabalhado muito, lá tínhamos de ir dar um beijo a toda a gente. Era tudo muito amigo, falava-se de tudo, cantávamos, bebíamos uns copitos de tinto,... O senhor que tocava concertina, Ti António Canaverde, ele andava num rancho, fizemos um desfile/marcha de Carnaval na Ferraria e na Abrunheira. Quadras:

O lugar da Ferraria
não é vila nem cidade
é um lugar pequenino
onde brilha a mocidade.

Havia aqui muitas raparigas. Os rapazes gostavam de cá vir.

Eles conheceram-se num baile/ discoteca… Deixaram de se ver e voltaram-se a encontrar mais tarde. O destino. A Sandra fez-lhe um esquema num papel para ele vir até à Ferraria. Nas Grocinas, perguntou o caminho a uma colega da Sandra. Vinha na sua mota grande. 

Futuro: vai bem, se se mantiver assim. já voltou a haver mais crianças.

Turismo: é o que trás gente. reconstruir casas. se não eram casas fantasma por aí.

Marcante: FOGO, estava apavorada. vimos entrevistas a pessoas que tinham morrido. as notícias assustaram. este fogo foi em toda a volta. já não dava para sair ou para entrar.

Os novos habitantes foi muito agradável. O meu filho era o mais novo. depois vieram estes novos.

Tenho que conjugar a minha vida profissional às boleias ao meu filho.

Está mais seguro? Sim, com a ZPA. Seguro não só para a aldeia mas para todos. O fogo fez ver poços que nem conhecia e não sabia que existia.

Como começou a ZPA? Tivemos uma iniciativa colectiva. para ter outras condições contra o fogo, sem eucaliptos.

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