Zona de Proteção da Aldeia

Contado por Maria

Vive na Ferraria há 12 anos. Agora trabalha fora. Houve uma altura que trabalhava a partir de casa. É actualmente formadora de costura. Veio porque conheceu o companheiro. Ele estava a reconstruir esta casa.

Uma experiência que eu achei que inicialmente não ia durar mais de 6 meses. Passados 12 anos estou aqui e bastante envolvida com a aldeia.

Ela veio conhecer a aldeia. “Gostei mais ou menos, achei um bocadinho isolado. Aquele impacto inicial, isto é longe de tudo.” “Uma experiência que eu achei que inicialmente não ia durar mais de 6 meses. Passados 12 anos estou aqui e bastante envolvida com a aldeia.” Sempre achou que havia um grande potencial. Desenhou com a Sofia um projeto direcionado para crianças para a promoção das tradições, recuperação dos costumes, e valorização do património natural. Trazer grupos para fazerem coisas aqui. A CMP estava envolvida. Achei sempre que fui bem recebida aqui pelas pessoas, fui bem acolhida. Durou 4 anos. Foi através da Associação que promovemos este projeto e o programa de visitas. “Permitiu-me interagir com as pessoas aqui da aldeia, dinamizar coisas e conhecer a comunidade escolar de Penela, as pessoas de Penela. Na verdade, eu era uma desconhecida aqui.” Na altura o turismo do Zé Sapateiro já promovia o Atelier do queijo. Achamos que podiamos acrescentar o atelier do pão, mostravamos todo o ciclo do milho e criámos uma horta pedagógica para as crianças que cá vinham. Assim, as crianças acompanhavam desde a sementeira à colheira, com um esquema de 3 visitas lectivas. Fazíamos um mercadinho na escola. As pessoas da aldeia ajudavam e mostravam as suas coisas como os rebanhos, os sobreiros, os ciclos da natureza. As crianças adoravam. Tinham uma reação extraordinária. Quando a Sofia teve colocação numa escola para lecionar, este projeto acabou. “Nós enriqueciamos as pessoas que cá vinham. Eu saia sempre de coração cheio. Era espectacular! A reação era sempre muito boa.” As pessoas têm aqui um tesouro e não sabem. Também era esta a reação das pessoas das escolas: dos adultos e das crianças. Faz muito sentido voltar a ativar estas ações, com uma estrutura melhor montada, como está agora. E alargar aos turistas. “O turistas querem levar experiências, não é só passar!”   

Queres continuar a morar cá? Sim. 

A Ferraria é pioneira? Sim na ZPA. No sentido de invertermos a desertificação, sim somos pioneiros nessa perspectiva, nunca tinha pensado nisto assim. Aqui vieram para cá casais jovens e tentamos dinamizar o que aqui existe.    

Futuro das aldeias, desta em particular? O que faz a aldeia são as pessoas. (citando o Joel no documentário) O território não é muito atrativo pela falta de emprego. É preciso ser muito pró-activo, resiliente, empreendedor.

ZPA: o que moveu as pessoas? A decisão de criar a ZPA nasceu na noite do incêndio. A população viu que: A zona dos sobreiros protegeu a aldeia. Acima da estrada que liga o tanque ao centro de BTT não devia haver eucaliptos. Identificaram como um perigo. Deveríamos substituir as árvores. Na noite do incêndio a população esteve em aflição, estava tudo assustado. O fogo rodeou a aldeia. Factores positivos: foi de noite e a temperatura do ar baixou, havia água nas mangueiras, havia luz (noutros locais faltou).

Convocámos uma reunião, uma semana depois, e formalmente decidimos criar a ZPA- Zona de Proteção da Aldeia que é um perímetro de 100 metros, definido por lei, em que se cumprem determinadas regras de limpeza de vegetação como matos, árvores e que protege a aldeia uma vez que impede de o fogo se aproximar tanto da aldeia. A propriedade é muitos … vários proprietários, cerca de 70 e tal ou dos herdeiros. Formalmente é dificil de definir esta área. Quem estava na reunião assinou um documento a autorizar os primeiros trabalhos de limpeza. Seguiram-se várias reuniões para a tomada de decisão dos passos que se seguiram. Por exemplo, que arquitectura iria ter? Que espécies se plantavam? Tudo era decidido em conjunto, em reunião. Houve entidades que nos foram orientando e ajudando. A execução foi através dessas entidades pagas, como no corte dos eucaliptos, no arranque das touças       

A sensação que estávamos todos unidos para o mesmo objectivo que era protegermo-nos.

Senti que Portugal inteiro estava solidário com estes territórios. Promovemos ações de voluntariado e era impressionante o número de pessoas que queria vir ajudar, participar, fazer parte, colaborar. Vinham de todo o lado. Eu sentia-me comovida. Felicitavam-nos pelo nosso trabalho.Eu pensava: - É por aqui o caminho, estamos a fazer bem, isto é fundamental para outros sítios, tem que ser feito noutros sítios.

É um trabalho cansativo, pensa-se em desistir mas vem uma força que me diz que não se pode parar. Tem que ser formalizado mas politicamente não há uma lei que gira isto. O trabalho tem que ser feito em muitos outros sítios para podermos sentir que salvámos vidas.

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