Histórias do Sobreiral

Contado por Arlete
Categoria B

Nasceu em Angola. Com 9 meses fui para Mocambique até ao 10 anos, idade em que veio para Portugal. Fui para o Cercal, 3 anos, terra dos meus avós paternos. Depois é que vim para a Ferraria, onde estava a família do lado da minha mãe. 1º alerta: não havia água nem luz.

Entrada na aldeia, tudo cheio de mato roçado na estrada.(para curtir para fazer estrume). Parecia um colchão fofo. Começou logo aos 10 anos a sachar as terras com o pai.

Alguma vez pensou em sair? Só para França, aos contratos (“contratas”). Ganhava-se mais em pouco tempo.

Casada como o Manuel, filhos Bruno Miguel  e Joel Filipe. Filhos nascidos em Coimbra, são daqui. Bruno já esteve emigrado, no Luxemburgo.

Gostei: ver as terras todas lavradas a arado de bois, mulas ou burros, charrué. Estavam mais evoluidos na agricultura que no Cercal.

3ª e 4ª classe, escola da Lomba da Casa, a 2km a pé; ciclo no Avelar, mais perto e com transporte (em Penela, não), 2 meninas e 1 menino do Favacal. Desistiu dos estudos no 6º ano. Depois entrou na agricultura mais a sério.

Grupo de 20 ou mais na primária. Iam a pé, por caminhos de terra. Almoçavam em casa no tempo bom. No Inverno levavam a bucha e comiam lá.

O quê? Ovo batido mexido com uma colher de açucar e pão migado. Pão só havia uma vez por semana.

Em crescida, trabalhou sempre na agricultura, na Ferraria. Fez estágio em vinha, no Pontão (Deslabroar). Namorou na aldeia. Casou com 18 anos. Vive na aldeia desde então. 1977 chegou a electricidade à Ferraria, tinha 12 anos. Antes da luz, banhos numa bacia. Lavar roupa, no tanque ou na ribeira, na Fonte Velha, lavada na pedra à mão. No Cercal também. Em África havia máquinas de lavar.

Médicos? Em Figueiró dos Vinhos, pq eramos residentes no Cercal.      

Mãe: sempre trabalhou da agricultura, na Ferraria. Tinham uma porca reprodutora para dar dinheiro. Vendiam a ninhada. A Arlete ganhava o dinheiro de um leitão e tinha o trabalho de mudar a água à porca, todos os dias. Ia à fonte/ fontanário buscar a água.

Sobreiral: sempre conheci, já existia. Apanhava bolota com a avó, para dar às cabras. Andar de pedra em pedra, em criança, gostava muito. Como de 10 em 10 anos vendíamos a cortiça, era uma fonte de rendimento. Dava também para  fazer a cama para as porcas, com as folhas que se apanhavam do chão, varidas com uma vassora de “bitoiro”, carqueja ou de urze (pareciam uns ramos).Eram boas secas que não se agarrava aos leitões como a palha, que é mais fina. Raramente se cortava uma sobreira, só se estivesse doente ou morta. Têm 1/34 avos do sobreiral que corresponde a x árvores. Todos os moradores têm lá sobreiras.   

A Ferraria avançou muito. Comparando com à 40 anos… Tem ainda muito para desenvolver.

Houve um momento de abandono. Os veados e os javalis é que estragaram muito a agricultura e a pecuária. A falta de feiras é outro motivo para o abandono dessas lides. Não havendo onde vender, deixámos de produzir.

Histórias/ recordações: MÁS - o fogo de 2017, passámos por 2 ou 3 mas como aquele nunca. “Ficámos cercados dos 2 lados da povoação. Só nos ficaram as casas de habitação. Tudo o que tínhamos de floresta e de agricultura, queimou-se tudo. Tivemos forte em não termos morrido.Não morreu ninguém na aldeia. Estivemos muito tempo sozinhos e sem bombeiros” Boas: Ferraria a desenvolver. 

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