Moradores na Ferraria. Ela família da Ferraria, o pai e Lomba da casa, a mãe. Veio aos 5 anos para a Ferraria. Ele é da Ferraria. Esteve em Moçambique 9 anos. Saiu aos 14 e veio aos 23 anos (1975).
Lembranças: tocavam o búzio, grande rebanho, o pastor ia para a serra com eles e vinha com um saco ao ombro quando nasciam cabritos no pasto e distribuía pelos donos. Cerca de 300 animais.
António:
Houve um dia que foi com o pastor. 8:30 até às 19.00. Levava um lanche - uma bucha com queijo e broa, água para beber, num barril de barro. Vinho morangueiro só alguns tinham.
(“Antrolhos” palas [bolas] em cortiça (tb havia em cabedal) para os olhos dos burros quando estavam na nora a tirar água, para não verem.) Serviam para ir buscar lenha, pasto, hortaliça, comida para as cabras, carregar o estrume, fazer a sementeira, arado e depois grades de pau - charruas antigas. Aprendeu com o pai e tios.
Isabel:
Apanhar a azeitona, vindima. Assim que saiu da escola, no Favacal, aos 8 - 10 anos começou a trabalhar.
Iam a pé para o Favacal, caminho antigo de terra pela fraga. 15 ou 20 juntos. Protegiam-se da chuva com saca de linhais - das batatas na cabeça, capucho. “Era melhor ir à escola que trabalhar!”, diz ele. “Mas quando chegávamos já tinhamos o recado para ir trabalhar, para ir ter com eles”, diz ela. “à noite, à luz da candeia de petróleo, faziam os trabalhos da escola.”
Domingos: Missa em Viavai, não havia trabalho com o gado, um bocadinho sossegados.
Festas: uns bailaricos. Flauta ou realejo: Sr. Fernando Palrinhas, Zé Luís, alguém de fora. Na Ferraria não há músicos. Festa de Nossa Sra. de Fátima e S. João do Deserto. Mordomos. faziam-se arcos enfeitados com fitas de papel, junco e folhas de hera. Procissão. Foguetes, fogaças para comer (como os tabuleiros de Tomar), frango, vinho, juntavam-se no barracão da casa do Zé Sapateiro a preparar a festa, as senhoras a cortar as fitas de papel e o homens faziam os arcos em madeira. última grande anos 80. Era na segunda semana de Agosto.
Brincadeiras: “a porca russa” como é agora o hóquei em patins, uma pinha a fazer de bola, uns buraquinhos, quem acertava lá dentro a bater com um pau. O Serrar da velha, à noite, latas velhas a bater, barulho, roçar nas pedras, tocar às portas. Fazia quem queria participar, novos e velhos, só homens. As mulheres em casa, eram as “velhas” que procuravamos. O partimento do burro, só os homens mais velhos, subiam a serra, tocavam os buzinos e partiam o burro e dividiam por todos do lugar.Um levava uma perna, outro uma costela (para um ternelo atrás do portão), falavam através de uma funil, como se fosse um altifalante, a parte pior ia para quem não gostavam - os tomates! para um teimoso, comichente.
Faz falta um café, um quiosque.
Futuro: cada vez melhor graças às pessoas que têm vindo para cá. Nós só sabemos trabalhar a terra, mexer na terra, eles trazem coisas novas. Têm orgulho como era antes. O pessoal vivia só daqui. Agora vão mudar a paisagem, é diferente.
Comida: sopa - couves com carne de porco, uma morcela, uma chouriça. No Carnaval arroz com as unhas (pés) de porco. Sopa de feijão, de abóbora. Batatas com bacalhau, quando o rei fazia anos. Comprava-se muito a sardinha, vinha o sardinheiro, um senhor com um burrito e dois cestos que vinha vender à noite. O padeiro vinha uma vez por mês, com o cesto às costas, do Espinhal.
Sobreiral: é do tempo nos nossos bisavós, levam 40 anos a criar, eu já não planto mais nenhum. Punham-se no dia de Carnaval, dizia o avô ti Julião: “o melhor dia para plantar os sobreiros”. Todos os anos se punha um sobreiro no dia de Carnaval, tudo no chaparral. Os que estão fora, nasceram daqueles. É o terreno colectivo do povo, todos podiam ter um x de sobreiros. Debaixo das árvores cabras a apanhar bolota.
Ribeira: uma vez por ano havia limpeza da ribeira (a regateira) e das estradas, dar um braçal, juntavam-se todos, combinavam o dia e no dia marcado tocavam o búzio e lá iam.
“Naquele tempo sofria-se muito.” Isabel
“Sofria-se muito mas saudável e andava tudo alegre. Passavam fome, ninguém tinha tristezas.” António
Sardinha do Avelar, da Feira, enfiava-se numa verga (câmbio) (corresponde ao quilo) e vinha-se com aquilo às costas.
Não querem sair daqui. Os filhos e netos não gostam da vida na aldeia, do trabalho, têm que trazer sapatos ruins que os bons aqui estragam-se todos.
Faltam: convívios e festas, corridas de BTT, caminhadas, parou tudo. Trazia muitos turistas. Chegava a haver BTT todos os meses e caminhadas uma vez por ano.
Caminho do pastor é para onde andar o gado...inventado...roda do partor por esta serra toda, geofloresta, até à Tarrasteira, S. João do Deserto, ao Agripino ao cimo do Farelo onde há as poças de água. O pastor só guarda o gado, não anda a correr. “Se fizessem esse passeio do caminho do pastor eu ia.” Não havia abrigos. Só usavam um capuz na cabeça.
Histórias: ele e um amigo iam atrás dos pássaros, serra acima. Chegava a casa e levava com uma malha…
Fonte Velha: iamos buscar a água. Enchia-se o cântaro ou o caldeiro de mergulho. para os animais era toda dali e para as pessoas também. Selada - Fonte dos cerneiros - uma buraca na pedra para os bois beberem. A melhor aldeia com poços, há muitos. Ainda se lembra de os ver fazer, tudo à mão. Conta como se faziam os poços.
Os mineiros eram o pai e o tio do Américo, o meu sogro e um tio meu, 4 homens fizeram todos os poços. Os outros faziam no mesmo alinhamento, iam tirar a água aos primeiros…Mina da capela - queríamos por chafarizes aí. “A água nascia à flor da terra.”
Ela, Isabel, faz renda, para divertimento e para uso da casa, trata das galinhas e da horta.